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A era dos hipermercados está chegando ao fim nas grandes cidades?

Lojas gigantescas e cheias de produtos não combinam mais com o estilo de vida do consumidor das grandes cidades, que procura fazer as compras o mais rápido possível e com apenas o mínimo necessário de deslocamento

Os hipermercados se transformaram, em todo o mundo, em um desafio para as grandes empresas de varejo. E no Brasil não tem sido diferente. As lojas gigantescas e cheias de produtos não combinam mais com o estilo de vida do consumidor das grandes cidades, que procura fazer as compras o mais rápido possível e com apenas o mínimo necessário de deslocamento. É por isso que as empresas estão repensando o modelo. Em alguns casos, a proposta tão vencedora até os anos 90 está sendo abandonada por completo.

Foi o que ocorreu com uma unidade do Extra na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta da zona oeste do Rio de Janeiro. Lá, o Grupo Pão de Açúcar simplesmente deixou para trás a proposta de ter um hiper do Extra como ponto de atração de clientes. Aproveitou o ponto para fazer um shopping da GPA Malls. Como a renda da região é alta, o Extra não sobreviveu nem como parte do centro comercial: em seu lugar, entrou uma loja do Pão de Açúcar.

A rede francesa Carrefour, que também sofre com o desgaste do modelo de hipermercados, lançou uma ofensiva para ocupar melhor as áreas de suas lojas. Em maio, em parceria com a Odebrecht Realizações Imobiliárias, a empresa anunciou a reformulação da unidade da Marginal Pinheiros, justamente a primeira da companhia no país, que ganhará um minishopping de 15 mil metros quadrados. A tendência é que outras lojas sofram transformações semelhantes.

Essa corrida pelo aproveitamento do ativo imobiliário tem razão de ser: hoje, conta uma fonte do Grupo Pão de Açúcar, abrir a unidade de 19 mil metros quadrados que o Extra tem na região do Panamby, na zona sul de São Paulo, exigiria um investimento de aproximadamente R$ 300 milhões – um valor que tornaria o projeto economicamente inviável.

A loja, na verdade, foi herdada do grupo Paes Mendonça, que foi adquirido pelo GPA em 1999. "Na época em que aquele hiper foi aberto, o Panamby era só mato. Era muito diferente do que é hoje", lembra um executivo do setor. "Hoje, o ativo imobiliário acaba sendo mais interessante do que a operação da loja em si."

Outra razão para o hipermercado perder espaço é a complexidade da operação. De acordo com o consultor em varejo Alberto Serrentino, a quantidade de itens dentro dessas lojas é dez vezes maior do que a oferecida nos atacarejos, que hoje têm margens de lucro bem superiores. "Os atacarejos hoje se consolidaram como um destino de compras para as famílias de baixa renda", explica o especialista. "Trata-se de uma invenção brasileira que hoje ‘rouba’ a fatia de mercados que antes era do hipermercado."

Conveniência

Embora o presidente do Pão de Açúcar, Ronaldo Iabrudi, afirme que a companhia ainda busque formas de expandir a operação de hipermercados, ele admite que o modelo das unidades precisa ser adaptado. "Temos planos de evoluir, de aumentar o espaço das galerias, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Vamos redesenhar e reconceituar os hipermercados", diz.

Mas o consenso de fontes do setor é que as varejistas devem dar prioridade a outros formatos. A emergência dos hipermercados rimava com a hiperinflação dos anos 80 e início dos anos 90. Era uma forma de o cliente comprar o máximo de itens para o mês em apenas um local, garantindo que a renda não fosse consumida pelo dragão inflacionário.

Além da emergência dos atacarejos, que abocanhou as classes C e D, o consumidor de alta renda está valorizando a conveniência: é por isso que a marca Pão de Açúcar está acelerando a abertura de minimercados em bairros nobres.

Diário do Comércio