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Brinquedos somem das gôndolas após supermercados reavaliarem espaços

Os supermercados brasileiros estão deixando de oferecer brinquedos para o consumidor. Após rever suas operações, principalmente os hipermercados, as redes definiram que falta espaço e estoque para abrigar esses itens, ao mesmo tempo que eles oferecem pouca margem de lucro. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), a participação do autosserviço (supermercados) nas […]

Os supermercados brasileiros estão deixando de oferecer brinquedos para o consumidor. Após rever suas operações, principalmente os hipermercados, as redes definiram que falta espaço e estoque para abrigar esses itens, ao mesmo tempo que eles oferecem pouca margem de lucro.

Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), a participação do autosserviço (supermercados) nas vendas totais do setor caiu pela metade entre 2008 e 2015. Hoje, apenas 8,6% de toda a comercialização de brinquedos no País são realizados nos supermercados. Há oito anos, o índice era de 15,9%.

“Por conta da nossa cultura, a venda de brinquedos no autosserviço não dá certo. Ela é ruim. Aqui [no Brasil], a criança gosta de interagir com o brinquedo, tocá-lo, escolhê-lo e levá-lo para casa. No supermercado, geralmente a mãe não tem esse tempo para dedicar à escolha da criança”, explica o presidente da Abrinq, Synésio Batista.

Para ele, houve um tempo em que realizar compras nos hipermercados era algo idealizado pelas famílias por conta da oferta de produtos. “Hoje em dia não é mais assim. As compras familiares geralmente são feitas para uma ou duas semanas, no máximo. Falta tempo, espaço e dinheiro para escolher e levar produtos além do necessário para casa”, opina.

Mesmo assim, Batista acredita que os brinquedos não vão sumir totalmente das prateleiras. “Nós nunca perderemos o autosserviço. Mas a representatividade nas vendas do nosso setor deve diminuir mais um pouco. Acredito que fique entre 6% e 7% ainda este ano e depois permaneça neste patamar de equilíbrio”, estima.

Ao perceber esse movimento do consumidor, os supermercados passaram a reavaliar suas operações, o que gerou a abertura de lojas mais enxutas.

Na opinião do gerente de vendas de bazar e eletroeletrônicos da Cooperativa de Consumo (Coop), Edson Rodrigues, este foi o motivo para que os brinquedos perdessem força neste canal. “Esses itens já foram uma grande tendência para os supermercados, mas não houve a consolidação. Vejo como um movimento natural do mercado”, afirmou ele, ao ressaltar que a Coop reduziu consideravelmente a estocagem de brinquedos nos últimos anos.

A rede, que passou por uma grande reforma no ano passado, seguiu o setor supermercadista e reavaliou seus espaços. Por isso, itens destinados ao público infanto-juvenil perderam campo nas lojas. Em contrapartida, drogarias e lanchonetes receberam maior atenção após as mudanças. “Nós investimos muito nessa reorganização das lojas e alguns setores tiveram que ser sacrificados. O de brinquedos foi um deles. Mas ainda assim oferecemos alguns itens deste tipo ao público”, salienta.

Rodrigues diz que as vendas de brinquedos começaram a declinar na Coop ainda em 2013. Em 2014, ao constatar nova queda, a rede passou a priorizar brindes e brinquedos de menor valor agregado. “Para este ano, optamos por trabalhar com algumas linhas populares de brinquedos, ainda mais acessíveis do que as anteriores. A questão da alta do dólar também influenciou muito nesta decisão”, diz.

Margem apertada

Outro fator que teria levado os supermercados a declinarem das vendas de brinquedos é a margem de lucro apertada. Para a CEO da Gouvêa de Souza & AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, os supermercadistas enfrentavam uma série de problemas ao adquirirem brinquedos para a revenda. “A questão logística do brinquedo, que costuma ser um item volumoso, pode ter feito a diferença. É um item que ocupa não só o espaço no transporte, como nas gôndolas. Além disso, nem sempre [o artigo] tem boas margens”, avalia.

A especialista cita também o fator sobre a avariação dos produtos que, segundo ela, causava dor de cabeça para as redes supermercadistas. “Qualquer plástico rasgado ou até mesmo um risco no produto perde apelo do consumidor. Isso também foi um diferencial para eles na decisão de cortar estes itens”, conta.

Ana Paula utiliza o exemplo dos itens de vestuário, preferidos das empresas varejistas ante aos brinquedos, para comparação. “É bastante complexo para as operações hiper e supermercados, com toda a prioridade que eles têm, revender os brinquedos. Bem ao contrário do vestuário, segmento em que eles enxergam uma chance maior de giro e de margem”, afirma.

Para driblar esse problema, ela indica aos empresários do setor que continuam apostando nos brinquedos em suas lojas a juntarem esses itens nas categorias por idade, como as destinadas às crianças. “Em vez de ter categoria brinquedos na loja, você pode ter um corredor destinado a determinada idade. Assim, nos locais que tiverem camisetas ou sandálias da personagem ‘Barbie’, por exemplo, você insere o brinquedo. É tendência que observei em alguns supermercados que visitei na Europa.”

Fonte: DCI