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Entidades de classe têm dificuldade de achar novas lideranças

Reportagem do Correio Popular mostra como atuam diversas entidades. Para presidente do Sindivarejista, líder precisa gostar de pessoas, ter audácia e disposição

Publicado no jornal Correio Popular – domingo (22 de julho)

Por Adriana Leite

As entidades de classe são a voz que dá vida aos grupos empresariais na sociedade e junto aos governantes. Ocupar um cargo relevante nelas foi durante muito tempo sinônimo de status no setor representado. 

Com a força da indústria e ligado a uma entidade que dá visibilidade – a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a situação no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Regional Campinas, difere do quadro visto em outras entidades. O diretor titular, José Nunes Filho, diz que a entidade possui pessoas extremamente comprometidas e que há formação de lideranças."

A entidade possui departamentos temáticos que têm muita participação. O Gênese ( Grupo de Estudos e Negócios dos Setores Empresariais) é um braço do Ciesp para a formação de lideranças. O Ciesp tem uma agenda extensa de atividades que atraem muitos associados. Dialogamos com toda a sociedade e também lutamos pelo interesse do setor e da cidade de Campinas" , comenta.

Nunes Filho afirma que a entidade não sofre com a falta de geração de quadros. "O Ciesp é muito atuante tanto em ações para os associados quanto na interface com a sociedade. Realizamos de cinco a sete eventos por semana" , pontua. Para ele, a visibilidade mostra como a entidade é ativa e se transforma em uma vitrine para que mais indústrias se interessem em ser associada. Ele afirma que a Regional de Campinas é a maior no Interior de São Paulo.
 
"A mensalidade paga pelos associados é de acordo com o faturamento da indústria" , aponta. O diretor titular comenta que a entidade tem 13 diretorias temáticas. Nunes Filho pontua que entre os projetos futuros do Ciesp está uma nova sede. "Nós prestamos vários serviços aos associados, como certificação digital, posto de atendimento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e posto da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp)" , diz.

Liderança requer tempo voluntário
 
A presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campinas (Sindivarejista), Sanae Murayama Saito, afirma que um bom líder deve gostar de pessoas. Ela lembra que as pessoas que atuam dentro de uma associação empresarial têm que dispor de tempo voluntário e essa é uma tarefa que nem todo mundo quer assumir. "Ser uma liderança dentro de uma entidade requer da pessoa saber trabalhar em grupo. Estabelecer parcerias que ajudem o conjunto dos associados. É possível criar novos líderes, principalmente incentivando a participação de mais associados e deixando bons frutos" , acentua a presidente. Ela ressalta que um líder deve ter audácia e disposição. 

Tradição

A presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), Adriana Flosi, afirma que é complicado gerar novas lideranças hoje dentro das entidades representativas dos setores produtivos. "A participação nas associações pressupõe dispor de tempo e vontade de trabalhar para um grupo. A entidade representa um coletivo. Hoje, a maioria das pessoas que atua no setor não quer assumir esse compromisso. Antigamente, era um orgulho para as famílias que tinham um negócio ter um representante nas entidades" , comenta.
  
O Grupo de Estudos e Negócios dos Setores Empresariais (Gênese) foi criado na década de 1990 e teve à frente lideranças como o presidente do Grupo Advento Juan Quirós e o diretor do Departamento Regional (Depar) da Fiesp, Alexandre Serpa. Há três anos, a entidade passou por um período de poucas atividades e praticamente não se ouvia falar do Gênese Mas o grupo está retomando os trabalhos com vigor neste ano.

O foco de atuação foi ampliado e estendido aos novos empreendedores, sejam eles jovens que buscam se firmar em seu negócio ou profissionais mais experientes que apostam em uma empresa própria. "Há dois anos passamos por um processo de transição que nos levou a criar novos conceitos e ideias. Nos reposicionamos" , diz o novo presidente do Gênese, Tiago Ferraz de Arruda e Aguirre.
 
Ele afirma que o grupo nasceu como um braço do setor industrial. Hoje, a entidade atua também com associados das áreas de serviço e comércio. "Nos últimos anos, houve uma consolidação dos dois setores que cresceram com força na região. Outro fator que nos levou a ampliar o espectro de associados foi o aumento do empreendedorismo no Brasil. O papel do Gênese é preparar as novas lideranças empresariais" , diz.

O presidente da entidade comenta que o grupo busca engajar os novos empreendedores por meio de encontros, fóruns, eventos sociais e reuniões consultivas. Aguirre salienta que apenas o processo de educação é capaz de estimular mais pessoas a participarem das associações e entidades. "O brasileiro é reflexivo ao associativismo. É uma questão cultural que será mudada pela educação e o trabalho das próprias entidades. Nos últimos dois anos, o Gênese trabalhou um ciclo de atividades fechadas para fortalecê-lo. Atualmente, temos 60 associados. Estamos engajados em fazer a entidade crescer " , diz. À procura de lideranças
 
As entidades de classe são a voz que dá vida aos grupos empresariais na sociedade e junto aos governantes. Ocupar um cargo relevante nelas foi durante muito tempo sinônimo de status no setor representado. Mas hoje forjar lideranças que queiram assumir a tarefa de chefiá-las demanda um trabalho de convencimento dos jovens empresários. As novas gerações querem ver resultados rápidos das ações e muitas vezes relutam em disponibilizar tempo voluntário para as atividades dos grupos.

O caminho proposto pelos atuais dirigentes das entidades é criar departamentos, comitês e núcleos com foco em áreas de interesse dos jovens. Realizar eventos, como palestras e workshops, sobre assuntos que atraiam esse público é outra estratégia para garantir a participação de pessoas que futuramente possam vir a liderar os grupos. Em Campinas, entidades como Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) pautam as ações para que mais jovens queiram fazer parte do comando.
 
Os associados custeiam as entidades e as lideranças trabalham voluntariamente. Moldar os novos líderes é uma tarefa que requer tempo e também saber exatamente o que interessa aos jovens executivos. O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Saulo Duarte Pinto Júnior, afirma que, infelizmente, os jovens estão cada dia mais avessos a vivenciarem o dia a dia das entidades. "As novas gerações mudam o foco com rapidez e querem resultados imediatos dos projetos" , analisa.

Ele ressalta que não é fácil hoje forjar novas lideranças. O presidente do Ibef-Campinas afirma que há falta de reposição de quadros e o problema é sentido por várias associações empresariais. "O relacionamento associativo é benéfico a todos. As entidades formam lideranças, são excelentes ambientes de networking e agregam valores à carreira dos profissionais" , comenta. Ele destaca que para atrair a atenção dos jovens é preciso estabelecer atividades e ações que sejam de interesse dos novos executivos.

A entidade criou recentemente o Ibef Jovem que tem como objetivo fomentar a participação de novos líderes. O departamento é comandado pela executiva Carina Budin Amaro. O departamento vai realizar uma palestra sobre carreiras. O tema será abordado por dois conceituados especialistas: Rodrigo Kede Lima Vice-Presidente de Global Technology Services (Serviços de Tecnologia) da IBM Brasil e Alfredo José Assumpção, presidente da Fesa Global Recruiters. "O encontro será no dia 22 de agosto. O tema atrai o público jovem" , diz o dirigente.

O presidente do Ibef-Campinas conta que há 26 anos é associado da entidade. "É a quarta vez que estou à frente do Ibef. Nesse tempo todo como associado construí relacionamentos pessoais e profissionais. Também desenvolvi minha carreira e aprendi muito com a troca de conhecimento com os outros associados" , comenta. Ele lembra que o trabalho de toda a diretoria é voluntário. "Espero que possamos encontrar novas lideranças que continuem a escrever a história da entidade" .

Tempo
 
O presidente da Associação Regional da Habitação (Habicamp), Francisco de Oliveira Lima Filho, afirma que há falta do líder com tempo disponível para atuar com compromisso nas entidades. "Essa disposição, mais que disponibilidade, está vinculada à pessoa, aos seus objetivos e ideais, ao se identificar com os procedimentos e aspirações da entidade" , diz. Lima Filho comenta que há características que são importantes aos líderes, como a qualificação e o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, gestoras e ousadas.
 
O presidente diz que que as novas lideranças devem ser escolhidas considerando sua idoneidade e boa participação no mercado da entidade que atuará. "Elas devem sempre estar próximas das direções acompanhando acontecimentos que as envolvam, quer seja em eventos internos ou externos" , salienta. Lima Filho ressalta ainda que para forjá-las é preciso primeiro encontrar pessoas com o traços intrínsecos a um representante.
 
"Capacidade de observação crítica, desejo e inquietação para inovar e cautela para arriscar muito. Esses são elementos que equilibram a personalidade e, por isso mesmo, s&atildeatilde;o imprescindíveis. Isso, dificilmente será aprendido, no entanto, pode e deve ser aperfeiçoado." , pontua. Lima Filho está à frente da Habicamp há sete anos.

O presidente da entidade ressalta que a atuação da Habicamp visa beneficiar os associados por meio de ações diretas e indiretas. "A primeira, refere-se a orientações sobre o mercado imobiliário, análises e observações relacionadas ao campo de atuação das empresas integrantes. Ao expormos o contexto do setor da construção civil e as questões econômicas que influenciam na nossa área, nós auxiliamos os associados a atingirem seus objetivos" , diz

Entidade se reiventa e quer espaço
 
Ter liderança pressupõe ter competências técnicas e comportamentais. A professora de Gestão de Pessoas do IBE-Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rita Ritz, enumera que há pelo menos 20 habilidades que os líderes devem ter para realmente ser uma voz representativa. "São essenciais a capacidade analítica, a habilidade para construir cenários, a visão sistêmica e a capacidade de dialogar e saber ouvir. Apreender o que o outro está falando é fundamental para uma pessoa que se propõe a liderar seja uma entidade de classe ou uma empresa" , frisa.

Rita observa que a formação, não apenas técnica, é determinante para moldar pessoas comprometidas com as associações e empresas. "O desenvolvimento de um profissional que se transforme em uma liderança passa pelo conhecimento de sua área técnica e também competências comportamentais. A graduação não oferece todas as habilidades pessoais que um líder deve possuir" , reforça. Para ela, as novas gerações são conquistadas com ações que tragam inovações e desafios.
 
"Saber explorar toda a potencialidade dos jovens é primordial para conquistá-los. Eles gostam de desafios e atuam de forma conjunta. Um exemplo é a participação dessa geração em redes sociais. A nova geração é participativa, mas ela deve ser seduzida" , diz. A especialista comenta que os gestores das empresas e das entidades devem conhecer mais o perfil dos jovens para incentivá-los a participar do cotidiano das associações. 

Fonte: Correio Popular