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Democracia se faz com regras e respeito, sem ameaças

Em artigo publicado na edição de quinta-feira (14) do Correio Popular, a presidente do Sindivarejista, Sanae Murayama Saito, expõe opinião sobre negociações

Ao longo de mais de uma década atuando no sindicato patronal do varejo, já me acostumei a explicar que o empresário também pode e deve ter um sindicato que o represente. Como presidente do Sindivarejista de Campinas e Região, que abrange 13 cidades e representa cerca de 40 mil empresários varejistas, não me incomodo absolutamente de prestar esclarecimentos sobre isso quantas vezes se fizer necessário. 

Na cabeça das pessoas, em sua grande maioria, sindicato existe somente para defender os direitos dos empregados. Mas há um dado bastante conhecido e divulgado de que, entre as empresas formais em todo o Brasil, 98% são micro e pequenas empresas. No varejo, essa proporção é a mesma. A categoria precisa do suporte de um sindicato que trabalhe para melhorar suas condições de sobrevivência, sempre dentro da legalidade.

Somos nós também que representamos esse varejista na hora da negociação da Convenção Coletiva de Trabalho. Todos os anos fazemos o processo de negociação, onde o sindicato dos empregados nos apresenta sua proposta de reajuste e nós apresentamos a nossa. Nesse documento, que deve ser assinado entre os dois sindicatos (do empregado e do empregador) constam também, além do índice de reajuste (calculado sobre a inflação do período), as cláusulas sociais, os direitos, jornadas de trabalho, folgas em feriados e outras obrigações que devem ser cumpridas por ambos os lados depois de assinado.

Estamos em fase de negociação da Convenção. Qualquer proposta que nos chega é decidida democraticamente em assembleia. Esse ano, a contraproposta dos varejistas, decidida em assembleia, foi de 8% de reajuste no salário dos comerciários e 8,5% no piso. Isso representa 31,8% de aumento real, uma vez que a inflação do período ficou em 6,07%. Os varejistas manifestaram em assembleia que não é possível dar mais que isso devido o ano de queda nas vendas e as perspectivas de um ano atípico que teremos em 2014, com Copa e eleições.

Infelizmente, mesmo com a negociação em andamento, o sindicato dos comerciários decidiu levar a discussão para as ruas. Com caminhão, alto-falante e faixas, cerca de 30 pessoas (ou 40, não contei, a grande maioria trazida de São Paulo e Osasco) pararam na tarde de segunda-feira (11/11) em frente à sede do Sindivarejista, no Centro de Campinas, à rua General Osório, onde gritavam palavras de ordem como “se o patrão não ceder, o pau vai comer”. 

Não critico a iniciativa, apesar de entender que com a negociação em curso o melhor lugar para se chegar a um acordo é numa conversa cara a cara, mas apelar para o constrangimento vai contra o princípio democrático de uma sociedade onde todos merecem respeito. Partir para o tratamento pessoal, quando nesse caso nós tratamos as questões na esfera institucional (como representantes das categorias), é um caminho antidemocrático.

Ao gritarem meu nome na rua, solicitando que eu descesse do prédio, deram uma demonstração de que preferem a coação a uma negociação com argumentos e números. Não satisfeito, o Sindicato dos Comerciários de Campinas, Paulínia e Valinhos (Seccamp) convida os comerciários a não trabalharem no feriado do dia 15 de novembro, dia de trabalho previsto pela Convenção Coletiva de Trabalho.

Nós já realizamos seis assembleias e três mesas redondas com o Ministério do Trabalho nos últimos dois meses. O processo é idôneo e transparente. Mas o Seccamp chega a escrever em seu site que há dois meses não há negociação. Portanto, sair às ruas para ameaçar, coagir, gritar palavras e bradar inverdades não é uma atitude democrática. 

Pelos meus princípios democráticos, a negociação deve seguir com assembleia, negociação, muito respeito e sempre de acordo com as regras estabelecidas entre os sindicatos patronal e dos empregados. Trazer a público o processo não é problema nenhum – a transparência é também um princípio importante da democracia -, mas expor e constranger uma cidadã que, no momento, representa uma categoria, isso não é o que se espera para que se construa uma boa relação.

É importante, além de tudo, ter consciência sobre o atual contexto. Diversas categorias profissionais já fecharam suas convenções com 8% de reajuste porque é o índice mais razoável para o momento. 
Sou sindicalista, representante da categoria patronal, e há décadas atuo no ramo com os mesmos princípios. Infelizmente, muito da imagem ruim que existe a respeito do sindicalismo se deve exatamente a esse tipo de comportamento. Não é o comportamento que eu aprovo, além de tudo já está ultrapassado e manjado há muito tempo – pegar gente para sair às ruas com faixas e palavras de ordem, caminhão de som e alto-falante, é coisa do passado. Não precisa muito esforço para perceber a situação forjada.

Sanae Murayama Saito
Presidente do Sindivarejista de Campinas e Região