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Minimercado em condomínio cresce e Brasil vira player mundial; Enxuto planeja ter mais 200

Pelo menos 30 empresas disputam o negócio de lojas autônomas no país, que movimentam de R$ 1,5 bi a R$ 2 bilhões por ano, de acordo com empresários do setor

Eles ganharam impulso, principalmente durante a fase mais dura da pandemia do coronavírus, quando sair de casa era um risco à saúde da população. Os mercadinhos autônomos, aqueles instalados em condomínios, foram a salvação de muitos consumidores. Afinal, no andar térreo de um edifício, era possível comprar até arroz e feijão.

Com a volta da circulação de pessoas, a expectativa era saber se este novo modelo de loja manteria o encanto diante da ansiedade dos brasileiros de correr para as ruas.

Eis a resposta. “A comodidade não tem volta. O Brasil já é um dos países com mais soluções de venda autônoma do mundo”, afirma Tom Ricetti, fundador da Onii, com 720 pontos no país.

Criada em 2019, a Onii possui lojas em condomínios, faculdades, hotéis, hospitais, coworkings, e se prepara para levar o seu know-how para Portugal, Espanha e Emirados Árabes.

Das 720 unidades, 390 são franquias e 330 são operadas por empreendedores que utilizam a tecnologia da empresa. “Somos quase um Uber deste mercado”, afirma.

A tecnologia da Oniie envolve aplicativo para ter acesso às lojas, meios de pagamento, emissão de notas fiscais, controle de estoque e inteligência para identificar demandas de consumidores.

Com três anos, a Minha Quitandinha está presente em 20 Estados do Brasil, com 180 pontos franqueados, número que deve subir para 300 até o final deste ano.

“Modelamos o negócio para ser sustentável, com produtos personalizados para cada comunidade e preços de minimercados, não abusivos”, diz Marcelo Villares, COO da empresa.

Assim como a Onii, a Minha Quitandinha é uma espécie de software house, pois desenvolve toda a tecnologia para a operação automatizada das lojas e o processo de gestão das franquias.

Com um investimento de cerca de R$ 50 mil, é possível ter uma loja da Minha Quitandinha. Dos 180 franqueados, diz Villares, curiosamente, poucos são do ramo de varejo.

Dentistas, advogados, ex -trabalhadores com carteira assinada, com idades entre 35 e 50 anos, formam o perfil dos franqueados da Minha Quitandinha.

O MERCADO

Estima-se que existam cerca de 10 mil mercadinhos autônomos no Brasil, que movimentam entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões por ano, valor que deve dobrar até o final de 2023.

O negócio cresceu tanto no país que os maiores players estão se unindo para montar uma associação de venda autônoma, que hoje já conta com cerca de 30 operadores.

“Este é um negócio novo e, portanto, há muito para desbravar”, diz Villares. Pesquisas revelam que pelo menos 400 mil condomínios estão prontos no país para ter um mercado autônomo.

O novo formato de loja acabou virando tema de dissertação de mestrado de Fabrício Chagas no curso de Gestão de Competitividade no Varejo da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Durante meses, Chagas fez pesquisa com consumidores e constatou que o negócio cresceu e tende a prosperar na medida em que os players identificam as demandas de cada comunidade.

“Agora, as pessoas podem sair de casa e esses minimercados funcionam muito bem para as compras de conveniência e para a reposição de produtos, não para grandes compras”, diz.

Em sua pesquisa, Chagas constatou que, de cada 100 pessoas, 48 vão pelo menos uma vez por semana à loja do condomínio, número um pouco menor do que o de mercado de bairro (52).

Ele também verificou que os consumidores pagam mais para comprar no condomínio, porém, se aceitavam preços bem mais altos em 2020 e 2021, agora não toleram mais.

HIROTA

Quem está há anos no setor supermercadista também está de olho neste negócio. A rede Hirota abriu a primeira unidade em 30 de julho de 2020 e hoje possui 108 pontos de venda.

“Este é um projeto que deu certo e não para. A demanda é para abrir mais 50 lojas. Devemos inaugurar pelo menos mais 20 até o final do ano”, diz Hélio Freddi Filho, diretor da rede.

Todos os mercadinhos autônomos do Hirota, de 18 a 50 metros quadrados, são administrados pela própria rede, geralmente em condomínios com mais de 300 apartamentos.

De acordo com Freddi Filho, essas lojas oferecem cerca de 700 skus (produtos no estoque da empresa), principalmente aqueles que não podem faltar na despensa.

“Quem tem uma dessas lojas no condomínio, não precisa fazer estoque em casa, pode descer até o térreo para comprar café, margarina, pão, cerveja, sorvete, doces”, diz.

ENXUTO

A rede Enxuto, de Campinas, é outra que decidiu abrir lojas autônomas. Hoje, já possui 30 unidades, de 62 metros a 400 metros quadrados, que oferecem 1.200 skus.

Até o final do mês que vem, a rede deve inaugurar mais seis lojas e, até o final do ano, mais 16, com planos de chegar a 50 até o final do ano no interior de São Paulo e na região do ABC.

Nos próximos dois anos, a rede se prepara para ter 200 lojas de proximidade, incluindo as autônomas nos condomínios e os mercadinhos em bairros.

Das 30 lojas da rede em condomínios, algumas já são semiautônomas. Durante o dia também oferecem produtos de açougue e padaria e contam com a presença de funcionários.

“Estamos agregando serviços, como a venda de pãozinho fresco, em algumas das unidades”, afirma Samuel Vânio Costa Junior, presidente da rede.

SERVIÇOS

Esses serviços, de acordo com a pesquisa de Chagas, farão cada vez mais diferença na hora de os consumidores optarem pelas lojas autônomas.

Em sua pesquisa qualitativa, Chagas constatou que os consumidores têm algumas considerações em relação aos mercadinhos de seus condomínios.

Uma delas é não encontrar o produto que já comprou uma vez no local, o que pode indicar falha na reposição. Outra é a exposição de mercadorias com validades vencidas.

Para Costa Junior, um minimercado em condomínio não pode somente suprir as compras de emergência, tem de estar abastecido, ter pão, carne, frutas, legumes e verduras.

A logística para gestão de estoque e abastecimento das lojas é um dos desafios para os players, dizem os empresários, até porque muitas unidades têm de ser abastecidas diariamente.

Em sua pesquisa, Chagas identificou que algumas lojas já trabalham com promoções e degustações de produtos, tudo para manter a fidelidade dos condôminos.

APP E CELULAR

Para comprar no mercadinho autônomo é preciso baixar o aplicativo da loja e fazer um cadastro, o que permite entrar no espaço, escolher os produtos e efetuar o pagamento.

A Onii possui aproximadamente 530 mil clientes cadastrados em seu aplicativo e tem planos para chegar a um milhão em curto prazo de tempo.

Cerca de 70% dos produtos estão praticamente em todas as lojas e outros 30% são definidos pelos condomínios, podendo mudar de acordo com as necessidades dos condôminos.

“O nosso grande negócio são os dados”, afirma Ricetti. A Onii já sabe que clientes que costumam comprar packs de cerveja, geralmente, levam doces da Fini para os filhos.

Os minimercados de conveniência estão se multiplicando, diz Costa Junior, porque, além da conveniência, oferecem produtos personalizados, atendendo a demandas locais.

“Não acredito em lojas de conveniência e, sim, em lojas convenientes, aquelas que misturam mercado com conveniência”, diz.

LUCRATIVIDADE

O que tem atraído muitos players para este negócio, que envolve muita tecnologia e uso de telefone celular, é a rentabilidade dos pontos de venda.

O lucro líquido de uma loja bem administrada chega a representar de 15% a 20% sobre o faturamento. No caso de um supermercado, geralmente, este percentual varia entre 3% e 4%.

A receita mensal de uma loja de 12 metros quadrados da Minha Quitandinha, por exemplo, é da ordem de R$ 12 mil, o que resulta em um lucro líquido de R$ 2,4 mil.

A venda por metro quadrado de uma loja autônoma também supera a de um supermercado. Uma unidade de 15 metros quadrados pode faturar até R$ 30 mil por metro quadrado.

Um supermercado fatura algo próximo de R$ 4,5 mil por metro quadrado, em média, no país, de acordo com supermercadistas e empresas que operam os minimercados autônomos.

Essa rentabilidade, diz Costa Junior, deverá atrair nos próximos anos muitos aventureiros, que, depois de um tempo, vão acabar desistindo do negócio.

“Eles acham que somente com tecnologia dá para competir. Não dá. Este negócio requer experiência de supermercadista”, diz.

Grandes redes, exatamente aquelas que, no passado, investiram pesado em hipermercados, perceberam que os supermercados de vizinhança e as lojas autônomas são a bola da vez.

As redes Pão de Açúcar Minuto e Carrefour Express, por exemplo, não param de expandir esse modelo de loja em todo o país.


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