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Leia artigo de Sanae Saito publicado no ‘Correio’: Educar para as finanças

Artigo publicado dia 2 de fevereiro de 2011 no jornal Correio Popular

As evidências de que o brasileiro sabe pouco sobre educação financeira são inúmeras. Do orçamento familiar ao orçamento empresarial, as distorções acontecem a todo momento. Isso não nos desmerece, porque vivemos em uma economia complexa – que muda a cada pronunciamento -, e convivemos com a falta de educação formal neste sentido – sem falar da dificuldade histórica de acesso aos recursos e ao crédito. O que nos foi imposto, até agora, foi agir intuitivamente, e nós, brasileiros, temos sobrevivido entre erros e acertos. Mas a vida financeira, como todas as outras coisas na vida, precisa estar dentro do processo de aprendizado.
No convívio com pequenos, médios e grandes empresários varejistas, vejo de perto a falta que a educação financeira faz na vida do empreendedor, dos executivos ou dos gerentes. Aqueles que se preparam para isso, naturalmente, se destacam. É claro que os intuitivos também se dão bem, mas este traço de nossa cultura – de que no final é o jeitinho que faz a diferença – perde espaço a cada dia. Precisamos, na verdade, nos preparar para entender as finanças. E isso não pode ser apenas uma questão de talento, porque, afinal, todos nós dependemos do controle orçamentário – da dona de casa ao grande empresário.
Fico otimista quando vejo a notícia de que a partir do próximo ano, por lei, as escolas públicas deverão ensinar educação financeira aos seus alunos. O projeto piloto já chegou a 450 escolas de todo o País. Foram acrescentados aos programas do ensino fundamental aulas sobre orçamento doméstico, poupança, aposentadoria, seguros e financiamento. O ensino médio também terá em breve este conteúdo.
Isso nos leva a crer que a população de baixa renda, que agora faz parte do mercado consumidor, vai poder aprender a cuidar do seu dinheiro. Vamos torcer para que o decreto do governo federal que criou esta Estratégia Nacional de Educação Financeira dê certo para acabar, de vez, com o analfabetismo financeiro. Estamos descobrindo, finalmente, há pouquíssimo tempo no Brasil, que não basta ter dinheiro na mão. É preciso sabe gastar.
Na vivência do comércio varejista, esta é uma velha questão. Em nosso universo diário fica evidente que a educação para as finanças começa dentro de casa e no orçamento familiar, e se reflete no comércio local e no dia-a-dia do cidadão. Isso não se aplica somente ao cidadão de baixa renda. Infelizmente, a classe média brasileira tem vergonha de falar aos filhos qual é a renda familiar. O orçamento chega a ser um tabu dentro de casa. Resultado: na hora de negar uma compra à criança fica até difícil dizer “não”. Como explicar se nunca se falou antes sobre orçamento familiar?
Em contrapartida, quando inserimos a criança no orçamento familiar, estamos preparando-a para a vida adulta, para o trabalho em equipe, para uma sociedade participativa, o cumprimento das metas, o planejamento e, principalmente, para o fortalecimento  das famílias.  Portanto, o comércio varejista – que está em todos os lugares e se caracteriza por sua capilaridade – pode mobilizar e atuar (como agente do desenvolvimento) na construção de uma sociedade mais sustentável que reflita sobre a sua forma de consumo. Isso implica, em última análise, no controle das finanças e no exercício da cidadania.
Esta é uma questão que está sempre em nossa pauta. No programa Conexão Social Sindivarejista, inserimos a educação para o consumo sustentável a partir do ensino do orçamento familiar em duas escolas municipais do Ouro Verde. As crianças (cerca de 900) assimilaram como uma esponja estes conceitos e levaram para casa toda a prática do que aprenderam sobre consumo sustentável.
São eles que devem mudar a realidade de nosso país, tanto na questão econômica quanto no grau de educação financeira da população e, consequentemente, na nossa capacidade de sustentabilidade. A educação financeira nas escolas só pode nos trazer boas perspectivas. Prática, aliás, que faz parte do currículo escolar de mais de 60 países, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Sanae Murayama Saito, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campinas e Região (Sindivarejista) com abrangência de 13 cidades e 40 mil representados. Formada em Estatística pela Unicamp, ex-Juíza Classista, varejista do Mercado Municipal de Campinas.